quinta-feira, 10 de março de 2011

Vovô Ezequiel - Saudades

Logo cedo estávamos nós dois, eu e meu avô Ezequiel, sentados na areia da praia da Colônia, em Fortaleza, olhando os pescadores chegando em suas jangadas cheias de peixes.

O vô Ezequiel, como nós o chamávamos era um homem muito forte, rude, sem estudo, valente, corajoso, teimoso, como era o estereótipo da maioria dos jangadeiros e pescadores da região. Ao mesmo tempo ele tinha um lado doce, tenro e carinhoso com os netos que contrastava com o jeito durão de ser.

Mesmo contrariando a vontade da minha mãe, ele sempre me levava a praia. Ficávamos por horas observando como os pescadores tiravam as suas jangadas do mar, arrastando-as sobre rolos de madeira. Ele aproveitava pra me ensinar como se fazia para palombar uma vela.

Mas o que é palombar uma vela? Nada mais é do que cozer a vela com uma palomba (fio grosso usado para coser vela). Engraçado como depois de mais de 30 anos eu me lembro dele falando-me essa palavra tão estranha e pouco usual no nosso cotidiano – PALOMBAR.

Na volta para casa nós, invariavelmente, levávamos peixes fresquinhos para que minha avózinha Silvana, caprichosamente, preparasse nas refeições da família. Talvez por isso, peixe (cozido, assado ou frito) seja o meu prato predileto.

Meu avô morria de medo de ir ao médico. Quando ele estava doente, bastava a minha avó dizer que iria levá-lo ao médico, que ele já pulava da sua rede, afirmando que estava bem. Curiosamente, como ele temia ir ao dentista, ele mesmo arrancava os dentes, usando uma faquinha, que ela próprio fabricava.

Quando ele já estava com uma idade um pouco avançada, por causa de um problema de saúde, foi lhe recomendado pelo médico, que não deveria ir mais à praia. A resposta do vô Ezequiel foi que se ele não pudesse mais ir à praia, era melhor que morresse de uma vez, pois já se sentiria morto, por não poder fazer o que ele mais gostava na vida – ver as jangadas chegando na praia.

E assim, a família não foi capaz de impedi-lo de seguir a sua rotina favorita até o seu último dia de vida.

Ainda hoje, quando vou a praia é inevitável não me lembrar do meu velho avô.

Vô Ezequiel, meu avôzinho querido, obrigado por tudo!
(Kilson N. da Silva)

5 comentários:

  1. kria tanto ter conhecido ele..acho ele parecido com minha mãe...

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  2. Que lindo Kilson! me emocionei bastante pois bateu forte a lembrança do meu pai. Igualzinho seu avô. Éramos 12 irmãos, 7 mulheres e 5 homens. A maior parte de nossas vidas moramos em sítios. Meu pai fazia questão de cultivar hortaliças nesses sítios. Ele tinha paixão pela terra, pelo verde...E apesar de ter 5 filhos homens era eu que ele sempre carregava pra roça...Enquanto cavava a terra e jogava algumas sementes eu brincava com bonequinhas de milho que ele me dava com imenso carinho. Ele sempre tirava a mais bonita...Apesar do ciúmes que tinha...
    Gostei muito do seu texto! Do carinho, da simplicidade de boa parte da vida que você levou...
    Fica com DEUS!
    Beijos!

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  3. Agradaveis reminiscências que me arremetem a um saudoso passado.Você retratou com mestria o perfil de nosso querido Ezequiel.Parabéns.Neste momento me sinto nostálgico.Obrigado

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  4. Adorei o blog!

    já estou seguindo!

    dê uma passadinha no meu também!

    beijinhos

    www.aylabee.blogspot.com

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  5. Kessya, obrigado pela visita e pelo comentário.
    Também estou seguindo seu blog, pois adorei.
    Beijos

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