Certa vez, quando eu ainda estava no 1° Ano da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), durante uma aula, o professor, nos dizia que deveríamos usar o bom senso na hora de decidirmos.
Eu, com sempre questionei muito, me levantei, fiz a minha apresentação individual (como era de praxe) e lhe perguntei: professor, o senhor poderia definir o que é bom senso? O senhor não acha que bom senso, por ser tão importante, não deveria ter uma Cadeira específica, como tantas outras disciplinas que temos aqui?
É lógico que ele não me respondeu e ainda me deu a maior bronca, afinal a minha pergunta parecia estar desafiando a autoridade dele. Que besteira! Mas ele não me respondeu a nenhuma das minhas duas perguntas!
Mais tarde, quando já era Oficial, um outro militar fez o seguinte comentário: - "Eu acho que o fulano de tal não tem bom senso". Foi quando eu lhe perguntei: - O que você acha que é bom senso? Você conseguiria me definir bom senso?
Ele ficou com os olhos arregalados me olhando e ficou calado, como se eu tivesse falando uma coisa do outro mundo.
Então eu lhe contei uma história que aconteceu na minha família.
Um tio de parte de mãe ficou louco. Uma vez, ele saiu de casa e começou a jogar pedras num rapaz que passava na rua, de bicicleta. A família do rapaz ficou indignada e resolveu partir para cima do meu tio e agredi-lo. A minha família ficou revoltada, por achar que eles deveriam perceber que o meu tio não estava no seu juízo perfeito e não merecia aquelas agressões. Quem agiu com bom senso?
Para a família do rapaz era falta de bom senso deixar um homem que estava louco a solta nas ruas; já para a nossa família era falta de bom senso agredir uma pessoa que era visível estar com problemas de saúde mental.
Mas quem estava aplicando o bom senso naquele momento? Os dois lados não estariam usando o seu bom senso? Ou nenhum dos dois lados estaria usando o bom senso?
O que eu queria mostrar para aquele colega é que o bom senso depende muito da visão e dos motivos que envolvem cada um, naquele exato momento (é o que eu penso). O que é bom senso para mim, pode não ser para você (e vice-versa). O difícil nessas horas é a gente ter empatia, ou seja, se colocar no lugar do outro e procurar entender por qual (is) motivo(s) aquela pessoa agiu daquela maneira.
Eu mesmo, já me peguei diversas vezes pensando: Caramba! Que falta de bom senso a minha naquela situação. Mas no momento em que decidir fazer isso ou aquilo eu tinha os meus motivos (não que justifiquem). Em algum caso pode ser até que exista um senso comum, mas eu só não creio que exista um "bom senso comum" para todas as situações.
Talvez se o problema fosse inverso, as partes envolvidas tomassem as mesmas atitudes, no caso que envolveram o meu tio.
Talvez nem seja bom senso da minha parte fazer estas perguntas, mas....
O que você acha que seja bom senso? Será que bom senso não deveria ser ensinado nas escolas? E quem estaria habilitado para ensinar esta "disciplina"?