domingo, 26 de fevereiro de 2012

Volta Pra Mim!

Ando meio perdido, sentindo muito sua falta. Você que sempre esteve ao meu lado, que me fez sorrir e chorar em diversas oportunidades. Alegramos-nos e entristecemos juntos.

Estou carente. Carente de ver o seu sorriso, a sua leveza, a sua alegria, o seu bom-humor irreverente, das suas explosões de raiva, que chutava tudo e até falava palavrões. A sua apatia me entristece demais.

Onde você está? Onde você se escondeu? Mudou de nome? Em que estrada você se perdeu? Quero ir ao seu encontro e resgata-lo pra mim. Minha vida depende de você – bem e feliz!

Preciso de você pra irmos à praia, correr, suar, dançar, viajar, beber...

Será que você se perdeu nos seus sonhos? Será que você se afogou em suas mágoas e decepções? Ou será que você se afastou, simplesmente, por se afastar?

Seja lá qual for o seu motivo, eu lhe rogo que não desista nunca da vida. Seja lá quanto tempo você precisar, eu estarei sempre lhe esperando, porque a minha vida depende única e exclusivamente de você.

Não se envergonhe de voltar se tiver mudado em alguns aspectos. Não me importa as novas roupas que você está usando. Venha como você está! Estarei com os braços, o coração e a alma aberta a lhe recepcionar.

Perdoe-me pelas tantas vezes que eu lhe julguei, lhe condenei e esperei que você tomasse determinadas decisões e você fez tudo ao contrário do que eu esperava. Perdoe-me também, pelas inúmeras vezes que senti raiva de você. Talvez seja até por isso que você tenha se distanciado de mim. Simplesmente lhe critiquei, quando deveria ter lhe apoiado. Não que eu precisasse concordar com as coisas erradas que você fazia, mas eu poderia ter procurado entender os seus motivos e tudo que você estava passando naquele momento.

Volta pra mim, com a sua pureza de alma, com a sua simplicidade de ver o mundo, com a sua bondade e generosidade...

Estou mesmo precisando de você: meu EU, meu velho KILSON!
(Kilson N. Silva)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Amor Acaba...

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

(Paulo Mendes Campos)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Esperança de uma Relação Profunda

Conhecemos as pessoas durante anos, até mesmo dezenas de anos, habituamo-nos a evitar os problemas pessoais e os assuntos verdadeiramente importantes, mas guardamos a esperança de que, mais tarde, em circunstâncias mais favoráveis, se possam justamente abordar esses assuntos e esses problemas.
A esperança, sempre adiada, de um relacionamento mais humano e mais completo nunca desaparece completamente, porque nenhuma relação humana se contenta com limites definitivos, restritos e rígidos. Permanece, portanto, a esperança, de que haja um dia uma relação «autêntica e profunda».
E permanece durante anos, até mesmo décadas, até que um acontecimento definitivo e brutal (em geral, uma coisa como a morte) vem dizer-nos que é demasiado tarde, que essa «relação autêntica e profunda», cuja imagem tínhamos amado, também não existirá; não existirá, tal como as outras.

(Michel Houellebecq, in 'As Partículas Elementares')